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Como criar a relação de amor com a corrida e deixar no passado o sedentarismo?

21/01/2014

Veja a história da atleta Angela Werdemberg.

Treino em pleno sábado e com chuva.Treino em pleno sábado e com chuva.

Dia 14 de outubro de 2012. Neste dia decidi que eu e a corrida seríamos felizes para sempre. Nosso caso de amor foi selado e teve, inclusive, direito a juras de amor. Tinha tudo para ser mais uma prova. Na verdade, a minha segunda prova de 10 quilômetros.

Tumulto de gente com camisetas amarelas e verdinhas. Cerca de 25 mil pessoas inscritas. Eu estava de verde e me achando a atleta. Só quem iria correr os 10 km e os 21 km estava de verde. Eram os caras do pedaço. Os amarelinhos faziam parte do time da caminhada.

Claro que, como a maioria dos iniciantes, eu também estava super bem equipada. GPS, fone de ouvido, braçadeira, celular, óculos escuros com filtro UVA e UVB, short de conforto térmico, carboidrato em gel e mais algumas coisinhas que já não lembro mais. Totalmente fechada no meu mundo.

Cheia de cacareco para não me sentir tão órfão e, principalmente, pra me sentir munida de coisas que ajudassem o tempo passar mais rápido. Eu pensava que a corrida era um esporte solitário. Seria um pouco mais de uma hora de corrida, um passo atrás do outro durante 10 quilômetros de sol na fuça no sobe e desce de Campo Grande. Sabia que não seria uma tarefa fácil.

Estava ansiosa para a largada. Ansiosa para saber se daria conta do recado. Se sobreviveria à subida da Antônio Maria Coelho depois da Via Park. Se não quebraria com o sol e o calor das manhãs de outubro. Corria há pouquíssimo tempo, mas me cobrava como se fosse uma queniana patrocinada pela Fila.

Já na primeira dificuldade, pensei. “Bendita hora que troquei meu feriadão em Bonito só para vir correr. Eu não era assim. Alguns meses atrás eu estaria chegando em casa da balada”. Mas já era tarde. Tinha deixado a família viajar sem mim, mesmo com a insistência para que fosse com eles.

Pressentia que iria descobrir o motivo da minha amiga Nayara Osmar declarar tanto amor à corrida nas redes sociais. Não deveria ser tão chato assim. Precisava dar mais tempo para o nosso relacionamento. Era cedo pra dispensá-la.

Eram só quatro meses de namoro e sem muita dedicação e empolgação.
Como criar a relação de amor com a corrida e deixar no passado o sedentarismo?

Foi dada a largada. Chip para cronometrar o tempo de prova no pé direito. Instrução de uma amiga corredora repetida várias vezes mentalmente. “Não posso esquecer de pisar no tapete para ler o chip”. É assim que marcam o tempo de cada atleta. Plateia nos canteiros. Tinha até torcida. Helicópteros. Imprensa, câmeras e todo mundo em ação.

Na minha playlist tocava Jota Quest. “Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua. Qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria em estar vivo...”. Não tinha aumentado muito o volume da música. Ia esperar a multidão dispersar para mandar ver no volume. Foi neste momento que tive a oportunidade de ouvir distantemente o som da corrida. Senti vontade de tirar o fone e saber melhor como era o mundo runners.

Aí encontrei meu primeiro grande motivo para correr. É arrepiante a sonoridade das pisadas. Avenida Mato Grosso tomada de gente. Eram 25 mil pessoas contagiadas pela energia descontraída e alegre do esporte. Pessoas comuns e que estavam ali pela diversão e pelo bem-estar da prática de atividade física. Apaixonei-me pelo som da corrida. Foi o início da aposentaria do meu fone, do celular e da braçadeira.

Durante as corridas, o companheirismo é empolgante. Já me ofereceram até chocolate. É camaradagem de irmão bonzinho quando percebe que pode ajudar. De uma corrida, ninguém sai sem fazer uma boa ação.

Corremos com pessoas que não conhecemos e que, provavelmente, jamais iremos reencontrá-las, mas por instantes são nossos melhores amigos. São quem nos incentivam, contam piadas, dão dicas de como treinar. O bate-papo rola gostoso como em uma mesa de bar.

Nesse dia descobri que a corrida não é um esporte solitário e penoso. Descobri também que para correr só é preciso querer. Não é necessário tanto acessório. É um dos poucos esportes que não precisa de nada, além do corpo, para ser praticado. O corpo é a ferramenta da corrida. Nada de rede, piscina, bola, raquete, regras. Na corrida, você escolhe o caminho, o nível da dificuldade e curte o vento contra ou a favor. É, simplesmente, apaixonante.
Angela em uma das muitas maratonas que tem participado.Angela em uma das muitas maratonas que tem participado.


Por Angela Werdemberg - Campo Grande News

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Comentários (1):

Luzia Câmara Ozarias 28/01/2014 15:07

Ri muito com essa reportagem, correr é tudo isso que a Angela contou, e mais alguma coisa... Meu nome é Luzia Câmara, adoro correr, comecei em 2008 e já tenho afilhados em diversos lugares desse Brasil. Correr também é isso...é contagiante.

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